
O alerta não é exagero: temos ignorado um dos alimentos mais poderosos que a natureza nos oferece. Estamos falando do humilde, porém extraordinário Feijão. A pesquisa veiculada pelo jornal The Guardian lembra que, embora as pulses cresçam em todos os continentes, emitam menos gases de efeito estufa, exijam menos terra e água do que qualquer fonte animal de proteína, e favoreçam o solo ao fixar nitrogênio, menos de 20% dos norte-americanos e mais de 40% dos britânicos não consomem sequer a porção mínima recomendada.
Isso demonstra uma falha sistêmica não apenas de dieta, mas de saúde pública, clima e futuro alimentar. Os dados que acompanham o ensaio mostram que o consumo de Feijão não é apenas saudável, ele é imprescindível. Segundo o estudo mais recente do pesquisador Yanni Papanikolaou, indivíduos que adicionaram apenas uma porção diária de Feijão à sua dieta aumentaram a ingestão de fibras em 77%. Além disso, substituir alimentos proteicos comuns por Feijão enlatado elevou em cerca de 51% a ingestão diária de fibras e aumentou o consumo de ferro, magnésio, potássio e folato em faixas de 6% a 13%, de acordo com a European Society of Medicine.
E não é só isso: um amplo levantamento publicado em 2021 constatou que o consumo regular das pulses do gênero Phaseolus vulgaris (Feijão) reduzia o LDL-colesterol em 19%, a incidência de doenças cardiovasculares em 11% e a de cardiopatias coronárias em 22%. No Brasil, estudo com adolescentes identificou que aqueles que consumiam Feijão cinco ou mais vezes por semana apresentavam menor índice de massa corporal, menor percentual de gordura e menor LDL-colesterol. Pesquisas da University of California, Los Angeles confirmam: Feijões ajudam a baixar pressão arterial, estabilizar o açúcar no sangue, reduzir o colesterol ruim e até proteger contra o câncer de cólon.
Menos consumo, menos saúde
Frente a esse nível de evidência, a negligência é alarmante. Por que continuamos a dar pouca atenção ao Feijão como parte central da alimentação cotidiana? Porque ele “não parece glamouroso”, ou porque o consumo de carne e ultraprocessados foi normalizado? O resultado é um duplo desastre: por um lado, perdas enormes em saúde e, por outro, seguimos contribuindo com um sistema alimentar insustentável ambientalmente.
É exatamente diante desse cenário que surge uma reação necessária. Marcelo Eduardo Lüders, presidente do IBRAFE – Instituto Brasileiro do Feijão, acredita que é possível reverter esta situação. Ele propõe uma frente nacional de resgate do Prato Feito com Feijão, Arroz, proteína, salada e fruta. Para isso, realizará um Workshop em São Paulo no dia 10 de fevereiro, Dia Mundial do Feijão, reunindo instituições e empresas que já possuem iniciativas de aumento de consumo para construir complementariedade entre os projetos e fortalecer uma agenda comum em defesa da comida de verdade.
Aqui vai o mote: o Feijão não é só um complemento. Ele deve ocupar lugar de destaque na rotina — diariamente, idealmente. Substituir parte das proteínas animais por Feijão representa não apenas uma melhoria na saúde individual, mas um gesto de responsabilidade global. Um prato simples de Feijão, grãos, legumes e verduras é mais do que culinária; é uma forma concreta de prevenir doenças, reduzir custos com saúde e produzir menos impacto ambiental.
Portanto, não espere mais. Se não conseguimos sequer atingir a recomendação trivial de meia xícara diária nos países ricos, o que dizer para nós no Brasil, onde o consumo tradicionalmente era maior, mas agora enfrenta distorções pela preferência por comidas rápidas e industrializadas? O Feijão precisa voltar às panelas com urgência — não apenas como prato cultural, mas como protagonista do prato saudável.
Se, amanhã, acordarmos com mais doenças metabólicas, mais obesidade, pressão alta, diabetes e ainda com a degradação ambiental avançando, não digamos que não fomos avisados. O Feijão está aqui, pronto, acessível, versátil e potente. Falta apenas a decisão consciente de incluí-lo.
O futuro de nossa saúde e do planeta depende de quantas panelas tiverem Feijão no fogo hoje.